sábado, 18 de junho de 2022

Podemos nos orgulhar da imoralidade.

Tratarei aqui de fatos que aconteceram e dos quais me orgulho, embora imorais.

Estudei na Academia Policial Militar do Guatupê, de 1987 a 1989. Fui “Xerife” de turma em uma semana que sequer recordo o ano e tínhamos uma visita para fazermos em Curitiba (algo cívico em algum lugar histórico). Então, 2 cadetes pretendiam parecer importantes, usando uniformes de gala (mais chiques). Ocorre que era um dia quente e determinei uniformes mais leves.

Foi uma tragédia porque os 2 se sentiram profundamente ofendidos. 1 deles buscou o Comandante da Turma afirmando que eu dizia saber mais Direito Penal do que ele – pior, sempre neguei a denominação Direito Penal – e instrutor exigiu prova, tendo o colega apresentado uma testemunha e, falsamente, disseram:

Nas aulas que o senhor falta e estamos limpando o pátio e jardim ele afirma que ser um absurdo as aulas de Direito Penal se tornarem em aulas de jardinagem.

O Senhor faz isso porque sabe menos Direito Penal do que ele.”

Fui punido com 6 dias de detenção devido a isso. Todavia, a minha reclamação era fazer horas-aulas acadêmicas em jardinagem.

Poucos meses depois fui procurado por alguns Cadetes porque era muito bom acadêmico e a “testemunha” do meu delator não tinha condições de ser aprovado em Estatística. Por isso, fiz a prova dele.[1]

Em certo momento, vi que o instrutor, um Coronel, percebeu que fiz a prova de outrem, “deixando passar”. Eu, muito nervoso, fiz a prova dele e a minha. Ele precisava de 9,0 e foi aprovado com essa nota.

Tirei 7,0 na prova e nunca me arrependerei do que fiz. Ajudei uma pessoa, independentemente de qualquer fato anterior.

Kant diria que errei porque a moral é superior ao interesse pessoal. No entanto, o interesse não era pessoal, mas o coletivo: ajudar uma turma a se formar.[2]

Esse é um caso em que a imoralidade (nunca “colei” e fiz a prova de outrem), creio, foi reconhecida como lícita pelo avaliador.

Pena que o colega se formou e poucos meses depois morreu em um acidente automobilístico....



[1] À época, pensava que estatística era preocupação de Oficiais Superiores, quando muito de Oficiais Intermediários. Depois, percebi o meu erro. Mas, nem todo mundo está no plano do planejamento, sendo meio bruto o operacional.

[2] Veja-se: KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. São Paulo: Martin Claret, 2003. passim.

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