segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

O brasileiro não está acostumado à democracia

Democracia, do grego demokratía, “governo do povo”, é exercida representativamente por uma regra da maioria, severamente criticada por Niklas Luhmann (1927-1998). Mas, Luhmann foi produtivo em um momento anterior à rede mundial de computadores, afirmando que a sociedade conhece a si própria através dos meios de comunicação de massa.[1]

Celso Campilongo, um dos pupilos de Raffaele de Giorgi, que trabalhou com Luhmann, tratou, em brinhante livro, acerca do pensamento dos dois. Ele entende que a produção do Direito só se legitima com o beneplácito da maioria.[2]

Neste artigo, teremos especial preocupação com isso, até porque o acoplamento estrutural da sociedade complexa se dá por intermédio do parlamento, onde estão os representantes do povo.[3]

Não podemos nos olvidar da “Célebre Discussão” – referida por Heródoto – que teria se concretizado no século VI antes de Cristo, sobre a melhor forma de governo. Tal discussão é uma criação imaginária, envolvendo três persas, sendo que cada um expôs seu pensamento:

(a) Otanes defendendo a democracia entende que o melhor governo é o do povo, porque conforme ocorrera com Cambises – monarca que havia morrido a pouco – haveria a prepotência e a inveja, esta, desde o princípio, faz parte da natureza da monarquia;

(b) Megabises, preferindo a oligarquia, referenda o que disse Otanes sobre a monarquia, mas quanto à atribuição do poder ao povo, entende que o conselho não é sábio: “A massa inepta é obtusa e prepodente; nisto nada se lhe compara. De nenhuma forma se deve tolerar que, para escapar da prepotência de um tirano, se caia sob a da plebe desatinada”. Por isso entende que um governo de poucos, oligárquico, é mais prudente;

(c) Dario concordou com as críticas feitas ao governo popular e defendeu a monarquia. Também, criticou a oligarquia pela facilidade de existirem conflitos, eis que todos pretendem ser chefes e fazer prevalecer suas opiniões, ocorrendo o ódio e as colusões das facções. Propõe, então, o governo de um só homem – o melhor de todos.[4]

O que digo que é que não existe democracia ideal. No entanto, não conhecemos nada menos pior do que o governo representado pela regra da maioria, inserindo regras – na própria Constituição Federal – para forte proteção das minorias e, conforme alerta Campilongo, os direitos fundamentais não podem estar sujeitos ao escrutíneo da maioria.[5]

O fato é que desde a proclamação da república, de 15.11.1889 – golpe que um povo bestializado foi incapaz de entender,[6] até porque saíamos de sistema monarquíco – tivemos poucos Presidentes da República eleitos. Vejamos (os nomes em negrito e itálico são os daqueles que foram eleitos, tomaram posse e cumpriram todo mandato):

Velha República

(1º) Deodoro da Fonseca (1827-1892), assumiu, em 15.11.1889, o comando do Brasil, como Chefe do Governo Provisório. Mas por medo da 1ª Revolta Armada, renunciou à presidência em 23.11.1891. Iniciamos mal a nossa história, desde a proclamação da sua independência de Portugal e a Proclamação da República não alterou isso;

(2º) Floriano Peixoto (1839-1895), foi eleito Vice-Presidente da República, tomando posse em 26.2.1891, foi derrubado pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiado por cafeicultores, entregando o governo ao sucessor;

(3º) Prudente de Morais (1841-1902) foi eleito ao governo pelo voto direto, em 1.3.1894, assumindo no dia 15.11.1894. Seu mandato terminou no dia 15.11.1898;

(4º) Campos Sales foi o 2º eleito pelo voto direto, tomando posse no dia 15.11.1898, e permaneceu até 15.11.1902, tendo feito o seu sucessor;

(5º) Rodrigues Alves (1848-1919), o 3º eleito, assumiu em 15.11.1902, terminando regularmente o mandato;

(6º) Afonso Pena (1847-1909), 4º Presidente da República eleito, tomou posse em 15.11.1906. Seu mandato terminou, em 14.6.1909, pelo fato de ter morrido;

(7º) Nilo Peçanha (1867-1924), eleito a Vice-Presidente, tomou posse em 14.6.1909. Foi o 1º Presidente da República pardo do Brasil;

(8º) Hermes da Fonseca (1855-1923), 5º Presidente eleito e 1º militar eleito, mediante fraude. Tomou posse em 15.11.1910. Conseguiu concluir, a duras penas, o seu mandato;

(9º) Venceslau Brás (1868-1966) foi o 6º eleito. Tomou posse em 15.11.1914 e terminou normalmente o mandato;

*Rodrigues Alves, 7º eleito e 5º Presidente do Brasil (acima), morreu antes da posse;

(10º) Delfim Moreira (1868-1920), eleito Vice-Presidente na chapa de Rodrigues Alves (vítima da Gripe Espanhola), tomou posse como interino em 15.11.1918, uma vez que a Constituição determinava nova eleição se o Presidente morresse até 2 anos depois da posse. Era acometido por arteriosclerose precoce e quem governava, na prática, era Afrânio de Melo Franco;

(11º) Epitácio Pessoa (1865—1942) foi o 8º Presidente eleito enquanto se encontrava na França, mas somente para o mandato tampão, em decorrência da morte de Rodrigues Alves. Tomou posse em 28.7.1919, sendo o primeiro caso de Presidente da República que se tornou Vice-Presidente;

(12º) Artur Bernardes (1875-1955), 9º eleito, tomou posse em 15.11.1922. Lutou todo mandato contra o tenentismo e enfrentou a Revolta Paulista de 1924, governando quase todo mandato em estado de sítio. Após a presidência, ele se elegeu Senador da República e inseriu no seu discurso de posse:

Não estará ainda na memória de todos o que fora a penúltima campanha presidencial?

Nela se afirmava que o candidato não seria eleito; eleito não seria reconhecido, não tomaria posse, não transporia os umbrais do Palácio do Catete!

Ficou no Senado até 1930, quando participou da Revolução de 1930 e se enganjou no movimento Revolucionário Constitucionalista de 1932. Como este fracassou, exilou-se em Portugal, retornando e sendo eleito para o mandato 1935-1939, perdendo o cargo em 1937 no golpe do Estado Novo;

(13º) Washington Luís (1869-1957), 10º eleito (candidato único), tomou posse em 15.11.1926 e foi deposto 21 dias de terminar o mandato pela Revolução de 1930, isso pelas forças político-militares de 1930, comandadas por Getúlio Vargas;

*Júlio Prestes (1882-1946), foi o 11º Presidente da República eleito e foi impedido de tomar posse pela Revolução de 1930;

Segunda República: Governos Provisório e Constitucional

*Primeira Junta Militar, Junta Governativa Provisória de 1930 ou Junta Pacificadora, formada por Augusto Fragoso (1869-1945), Isaias de Noronha (1874-1963) e João de Deus Mena Barreto (1874-1933), governou o Brasil de 24.10.1930 a 3.11.1930;

(14º) Getúlio Vargas (1882-1954), foi o 11º eleito a Presidente da República pela Assembleia Nacional Constituinte (1934-1937);

Terceira República: Estado Novo

*Getúlio Vargas governou como ditador durante o Estado Novo, de 10.11.1937 a 29.10.1945, quando renunciou ante a iminência de ser deposto por militares. Ele fechou o Congresso Nacional;

(15º) José Linhares (1886-1957) assumiu a Presidência da República no dia 29.10.1945 por convocação das Forças Armadas porque era Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Quarta República: Populismo

(16º) Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), 12º eleito, era General do Exército e contou com o apoio de Getúlio Vargas nas eleições de 1945. Eleito sob a vigência da Constituição de 1937, não tinha Vice-Presidente, tendo sido nomeado Nereu Ramos para tal. Dutra tomou posse no dia 31.1.1946. Seu mandato seria de 6 anos, mas a Constituição de 1946 reduziu para 5 anos;

(17º) Getúlio Vargas (acima: 14º), com discurso conciliador e de "não ao ódio", teve campanha que fez relembrar o discurso de Artur Bernardes (acima: 12º) foi o 3º eleito. É interessante o discurso de Carlos Lacerda, sobre Getúlio Vargas:

O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.

Isso remonta a campanha e a situação de hoje, 26.12.2022, quando um candidato que se comprometia a ser contra e lutar pelo fim da reeleição, esperneia, chora e incentiva movimentos contra a posse do Presidente da República diplomado. Diferentemente de hoje, o Presidente Dutra não permitiu qualquer conspiração militar.

No seu terceiro momento, Getúlio tomou posse no dia 31.1.1951 e saiu do poder com a morte, em 24.8.1954, em razão de suicídio. Teorias conspiratórias negam esse suicídio, sem qualquer elemento probatório que as fundamentem;

(18º) Café Filho (1899-1970), não desejado por Getúlio Vargas como seu vice, embora do mesmo partido, foi imposto a ele. O resultado foi uma diferença de apenas 200.000 fotos para o seu opositor, isso porque as eleições de Presidente e Vice-Presidente eram desvinculadas. Foi Presidente de 28.8.1954 a 8.11.1955, deixando o cargo por doença;

(19º) Carlos Luz (1894-1961) era Presidente da Câmara dos Deputados e foi Presidente da República porque Café Filho adoeceu. Foi empossado no dia 8.11.1955 e foi impedido (sofreu impechment) no dia 11.11.1955 – ficou apenas 3 dias no poder – sob a alegação de conspiração contra Juscelino Kubitschek, já eleito.

Em 2019 foi lançado um documentário intitulado "Democracia em Vertigem", da Cineasta Petra Costa, indicado ao Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem, que parece retratar todas as articulações de retomada de poder do Brasil República, de 1889 a 2022.

Hoje, fala-se de forma frágil na dicotomia esquerda-direita. Diz-se que o Presidente da República diplomado no dia 12.12.2022 é de esquerda, olvidando-se que direita é liberarismo, é meritocracia, é Estado mínimo. Mas, ao exemplo do que os reacionários desejam hoje, o impedimento de Carlos Luz foi liderado pelo General Henrique Lott;

(20º) Nereu Ramos (1888-1958), foi eleito pelo Congresso Nacional a Vice-Presidente do Senado Federal, tomando posse no dia 8.11.1955, em razão do impedimento de Carlos Luz.

Ele era o terceiro na linha de sucessão à presidência, tendo sido levado ao poder pelo suicídio de Getúlio e o pedido de licença para tratamento da saúde, feito pelo Café Filho (no governo de Nereu Ramos, sofreu impedimento [impeachment]). Por fim, houve o impedimento de Carlos Luz.

Nereu Ramos completou o quinquênio do mandato presidencial de então sob estado de sítio, reforçando a argumentação de que não estamos adaptados à democracia;

(21º) Juscelino Kubitschek (1902-1976) exerceu o mandato de 31.1.1956 a 31.1.1961. Ele iniciou a carreira política mediante a convocação para atuar como Médico na Revolução Constitucionalista, em favor de Getúlio Vargas.

Mais um exemplo de mistura de política e austeridade militar. A sua posse só se concretizou porque o General Henrique Lott desencadeou um movimento militar para combater aqueles que argumentavam que ele – não tendo a maioria absoluta dos votos – não poderia tomar posse e governar;

(22º) Janio Quadros (1917-1992) iniciou sua carreira política favorecido pela repulsa aos "candidatos de Prestes". Sendo suplente, tomou posse pela cassação do titular.

Jânio veio na onda "varrer toda sujeira da administração pública". Mas, só ficou no poder de 31.1.1961 a 25.8.1961, embora tivesse a vassoura como símbolo, renunciou ao cargo de Presidente da República no dia 25.8.1961 e continuou na política até a morte;

(23º) Ranieri Mazzilli (1910-1975), governou o Brasil por apenas 13 dias (de 2.4.1964 a 15.4.1964). Foi um momento em que o General Odílio Denys, o Brigadeiro Gabriel Grün Moss e o Almirante Sílvio Heck, tentaram impedir a posse de João Goulart, criando grave crise política no Brasil;

(24º) João Goulart (1919-1976), o Jango, foi eleito Vice-Presidente da República de Jânio Quadros, assumiu um mandato conturbado foi deposto pelo Golpe Militar de 3.3.1964 a 1.4.1964;

Ditadura ou autoritarismo militar[7]

(25º) Ranieri Mazzilli, como era Presidente da Câmara dos Deputados, de 1959 a 1965, assumiu novamente o poder com o golpe militar e, coincidentemente, ficou novamente apenas 13 dias no poder;[8]

(26º) Castello Branco (1897-1967), foi um dos articuladores do Golpe Militar de 31.3.1964 a 1.4.1964, em uma suposta luta contra o "perigo marxista-leninista", logo após a "Marcha da Família com Deus Pela Liberdade", de 19.3.1964, relembrando o facismo brasileiro, estruturado pela Ação Integralista Brasileira (AIB), de 1932.

Ele teria que terminar o mandato de Jânio Quadros, que terminaria 31.1.1966, tendo sido suspensas as eleições presidenciais diretas previstas para 3.10.1965 e o seu mandato prorrogado. Assim, governou até 15.3.1967. Foi Castello Branco quem outorgou a Constituição, de 24.1.1967;

(27º) Costa e Silva (1899-1969), foi eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, tendo governado de 15.3.1967 a 31.8.1969, quando teve acidente vascular cerebral (AVC), cujas consequências se desdobraram até a sua morte, em 17.12.1969;

*Pedro Aleixo (1901-1975),[9] quando sobreveio a incapacidade absoluta de Costa e Silva, ele era Vice-Presidente. No entanto, os militares o impediram de tomar posse e o seu mandato foi considerado extinto pelo Ato Institucional n. 16 (AI-16), de 14.10.1969;

*Segunda Junta Militar, governou de 31.8.1969 a 30.10.1969. Os Ministros das FFAA [General Aurélio de Lira Tavares (1905-1998), Almirante Augusto Radamaker (1905-1985) e o Brigadeiro Márcio de Sousa Melo (1906-1991)], sob as disposições do AI-5. Eles outorgaram a Emenda Constitucional n. 1, de 17.10.1969, a qual é considerada por muitos constitucionalistas como sendo uma nova Constituição outorgada pelos militares;

(28º) Garrastazu Médici (1905-1985), governou de 30.10.1969 a 15.3.1974, um perído que ficou conhecido como anos de chumbo. Ele prometeu restabelecer a democracia até o final do seu governo, mas não cumpriu. Ele nunca fechou o Congresso e não cassou Deputado. Brasil viveu o denominado milagre brasileiro, com crescimento econômico recorde, inflação baixa e projetos desenvolvimentistas como o Plano de Integração Nacional (PIN);

(29º) Ernesto Geisel (1907-1996), governou, de 15.3.1974 a 15.3.1979, objetivando a abertura democrática. Sobre esse governo é bom apresentar a posição do General Hugo Abreu, chefe do Gabinete Militar de Geisel, de 1974 a 1978, para quem a carreira de João Figueiredo foi acelerada para a sucessão e a transição de poder aos civis, com elevada corrupção na "grande farsa", representada pelas eleições de 15.10.1978;[10]

(30º) João Figueiredo (1918-1999) governou de 15.3.1979 a 15.3.1985. Ele cumpriu a promessa do seu discurso de posse de transferir o poder aos civis, embora tenha sido um dos golpistas de 1964. Ele editou a Lei da Anistia (Lei n. 6.683, de 28.8.1979) preparando cenário para a transição.

É interessante notar que o Partido dos Trabalhadores foi fundado em 10.2.1980 com o objetivo de resgatar a democracia, anunciada por Figueiredo no seu discurso de posse. Muitos atentados foram atribuídos a militares do núcleo duro da ditadura, talvez, por medo de revanchismo pela chegada da oposição ao poder; 

Sexta república: nova república

*Tancredo Neves (1910-1985) foi eleito indiretamente no dia 15.1.1985. Na véspera da posse, 14.3.1985, foi internado gravemente doente, morrendo no dia 21.4.2022;

(31º) José Sarney (nascido em 24.4.1930) governou o Brasil de 15.3.1985 a 15.3.1990. Ele era vice de Trancredo Neves, internado 1 dia antes da posse. Considerado traidor por Figueiredo, não recebeu a faixa das suas mãos. Sua maior marca foi o fracasso contra a hiperinflação herdada. Seus ousados planos econômicos (Cruzado, Cruzado II, Bresser e Verão) não evitaram que tívessemos índices inflacionários elevadíssimos.[11] De todo modos, foi durante o seu governo que foi promulgada a Constituição Federal vigente;[12]

(32º) Fernando Collor (nascido em 12.8.1949), foi o primeiro eleito diretamente. Tomou posse em 15.3.1990, tendo feito uma campanha como o "guardião da moral" e "caçador de marajás". Porém, acabou sofrendo processo de impeachment e renunciou ao mandato no dia 29.12.1992. Mesmo assim, o Senado o condenou a perda do mandato.

Ele, logo que tomou posse, confiscou poupanças. Dizia ter uma arma com um único cartucho, portanto, não poderia falhar. Mas, a hiperflação persistiu e emergiram escândalos de corrupção, envolvendo Paulo César Farias, o PC Farias, que estava cumprindo pena quando morreu em controverso suicídio;

(33º) Itamar Franco (1930-2011) era vice de Collor, tomando posse em 29.12.1992, devido ao impedimento deste. Ele teve por marca principal a criação do Plano Real que instituiu a moeda vigente por meio de medida provisória, mais tarde convertida na Lei n. 9.069, de 29.6.1995. Seu sucesso na Economia propiciou a eleição do seu sucessor em primeiro turno;

(34º) Fernando Henrique Cardoso (nascido em 18.6.1931), articulou a emenda constitucional para possibilitar a própria reeleição e, por isso, ficou no poder de 1.1.1995 a 1.1.2003. Ele enfrentou forte desvalorização do real e problemas de fornecimento de energia, dando ensejo à eleição da oposição;

(35º) Luiz Inácio Lula da Silva (nascido em 27.10.1945, oficialmente em 6.10.1945), governou de 1.1.2003 a 1.1.2011, conseguindo a eleição da sua sua sucessora. Ele deu continuidade à forma de gestão do governo anterior. Mas, no âmbito da Operação Lava Jato, foi decretada a sua prisão no dia 5.4.2018, sendo que ele se entregou à Polícia Federal no dia 7.4.2018, tendo sido solto no dia 8.11.2019 e, em 8.3.2021, em decisão mocrática o STF anulou todas as condenações de Lula decorrentes da Operação Lava Jato;

(36º) Dilma Rousseff (nascida em 14.12.1947) foi a primeira mulher eleita Presidente da República, tendo tomado posse no dia 1.1.2011, foi reeleita, mas sancionada em processo de impedimento, em 31.8.2016. Ela assumiu o mandato logo após a crise econômica de 2008, conseguiu se reeleger em 2014 e se isolou políticamente, chegando à ingovernabilidade potencial;

(37º) Jair Bolsonaro (nascido em 21.3.1955), um político profissional como muitos antecessores e, também, um intervencionista (defensor de governos de militares), vem na onda trumpista de um suposto conservadorismo, radicalizando o discurso na dicotomia direita-esquerda.

Novo "guardião da moral" e contrário à "velha política" o atual Presidente da República se tornou refém do centrão, caracterizado por partidos políticos que sempre estão no poder e que são a verdadeira expressão da "velha política". O mais interessante é que ele tinha como promessa de campanha tentar eliminar a possibilidade de reeleição e, ao que parece, está deprimido por ter perdido as últimas eleições, tentando criar um fato para eventual intervenção militar que o mantenha no poder.

Sua repulsa à denominada "grande imprensa", valorizando a comunicação por redes sociais, incentivando o discurso de ódio e o armamentismo privado, talvez, foram determinantes para a sua derrota nas urnas no dia 30.10.2022.

O 38º Presidente será novamente Lula, eleito para o seu terceiro mandato. No entanto, eleitores intervencionistas procuram criar um fato que justifique a impossibilidade de que o Presidente eleito tome posse no próximo dia 1.1.2024.

Últimos comentários

Concluindo, essa síntese evidencia o quanto os militares influenciaram desde o surgimento da República Federativa do Brasil. Foram eles quem a impuseram, inserindo no poder os seus primeiros Presidentes da República militares. Logo a seguir vieram Tenentismo, Revolução de 1930, Estado Novo e, após curto período de vigência da Constituição Federal de 1946, Golpe Militar de 1964.

Na Sexta República, o primeiro Presidente eleito (não se olvide que Sarney não foi eleito para o Cargo de Presidente da República) foi sancionado com impedimento pelo Senado Federal. Tivemos um segundo eleito que terminou normalmente o seu mandato. Mas, o terceiro, embora terminando o mandato, foi preso em razão do cargo. A quarta também foi impedida.

A nossa Constituição Cidadã tem pouco mais de 34 anos e 2 meses. Nesse período, emerge uma parcela considerável de eleitores que buscam um novo golpe militar.

Não esqueçamos o notório caso de terrorismo, de 24.12.2022, em que um homem confessou pretender criar o caos no Brasil para gerar intervenção militar (tentou explodir caminhão tanque de combustíveis nos arredores do Aeroporto JK, em Brasília). Também, pessoas fazendo vigília e chorando nos umbrais dos quartéis.

Por não estarmos acostumados à democracia, somos vulneráveis aos discursos intervencionistas. Por sermos pouco aptos à leitura, somos facilmente influenciáveis por notícias falsas e pouco podemos contribuir para a cultura de um estado democrático de Direito.



[1] LUHMANN, Niklas. GIORGI, Raffaele de. Teoria de la sociedad. México: universidade Iberoamericana, 1993.

[2] CAMPILONGO, Celso Fernandes. Direito e democracia. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2000. p. 56.

[3] GIORGI, Raffaele de. Direito, democracia e risco: vinculos com o futuro. Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 1998.

[4] BOBBIO. Norberto. A teoria das formas de governo. 10. ed. Brasília: UnB, 2000, p. 39-40.

[5] CAMPILONGO, Celso Fernandes. Op. cit. p. 53.

[6] CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1.987.

[7] Há quem diga que não foi propriamente ditadura porque havia alternância de poder. Com isso seria tão somente um autoritarismo militar. Como uma das características da ditadura é o autoritarismo, a academia prefere falar em ditadura militar porque era o poder concentrado em um grupo, o que não desnatura o regime ditatorial.

[8] República – do latim res publica, coisa pública – se caracteriza pela multitude (número razoável de pessoas), pela communio (comunidade de interesses e de fins) e pelo consensus iuris (consenso do Direito). Três forças se reunem, a saber: libertas, do povo; auctoritas, do Senado; e potestas, dos Juízes. A república é uma forma de governo no o chefe de Estado é eleito pelo ou seus representantes, para um mandato limitado no tempo. Não se confunda com sistema de governo, cujas espécies mais comuns são presidencialismo e parlamentarismo. Efetivas repúblicas, tem um centro de poder em uma cidade autônoma ou distrito federal, e Estados Membros ou Províncias com autonomias relativas. O Brasil, pela mitigação da autonomia dos Estados Membros, mais parece um estado unitário, o que se acentuou durante a ditadura militar.

[9] Lei n. 12.486, de 12.9.2011:

Inclui o nome do cidadão Pedro Aleixo na galeria dos que foram ungidos pela Nação Brasileira para a Suprema Magistratura.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O cidadão Pedro Aleixo, Vice-Presidente da República impedido de exercer a Presidência em 1969 em desrespeito à Constituição Federal então em vigor, figurará na galeria dos que foram ungidos pela Nação Brasileira para a Suprema Magistratura, para todos os efeitos legais.

Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Essa lei é de redação extremamente confusa. Embora seja de iniciativa da Mesa Diretora do Senado Federal, parece que a redação é da então Presidente da República, famosa por notórias afirmações inusitadas e hilárias. Ora, se a pretensão era assegurar proventos equivalentes aos de Ministro do Supremo Tribunal Federal à viúva e dependentes existentes na data do óbito de Pedro Aleixo – com pagamentos retroativos – que o fizesse de forma clara.

[10] Hugo Abreu foi preso, em Out1978, devido ao fato de ter enviado documento a vários Generais com acusações a integrantes do Governo Geisel e a publicação de livro (O outro lado do poder. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979), que traz tais acusações, o levou a nova prisão disciplinar. Seu livro póstumo (Tempo de crise. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980), praticamente reproduz o inteiro teor do primeiro livro, sendo mais amplo (enquanto o primeiro tem 208 páginas, o segundo tem 295).

[11] Fui declarado a Aspirante-a-Oficial da PMDF no dia 8.12.1989, recordo-me que ao chegarem Brasília, no apagar das luzes do governo Sarney, a inflação era tal alta que tínhamos gatilhos para reajuste de salários mensalmente. A inflação de Mar1989 a Mar1990, chegou ao apavorante somatório de 6.390,52%.

[12] A Costituição Federal estabeleceu sua própria revisão ao completar 5 anos. Ela já está desnaturada em muitos aspectos, uma vez que, em 22.12.2022, foi editada a Emenda Constitucional n. 128. São aproximadamente 3,8 emendas anualmente.