Nesse momento em que muitos ocidentais comemoram a páscoa, gostaria de
relembrar que a sua origem está dentre os judeus da antiguidade, muito antes da
existência do Jesus Cristo histórico que se pretende defender.
Primeiramente devemos observar que o ano judaico se iniciava em março, e
o último mês fevereiro, menor e variável para não criar problemas. Daí em nosso
idioma ficar esquisito termos os meses de setembro, outubro, novembro e
dezembro, respectivamente como, os meses nove, dez, onze e doze. Ora, como [sete]mbro
é nove e... [dez]embro é doze?
Entre os judeus, a páscoa, remonta a saída do Egito. Não digo que seria
propriamente uma fuga porque Yafe teria enviado 10 pragas, dentre elas, teria matado
todos os primogênitos daqueles que não tivessem fé e não tivessem tingido os umbrais
das suas portas com sangue de cordeiro (Êxodo, Caps. 6-12.).
A tese de Joseph Atwill, no sentido de que a figura Jesus Cristo é uma
farsa criada pela aristocracia romana para controlar as massas e, ao longo da
história, só tem causado danos à humanidade, é notória. De qualquer modo, a
única referência ao tal Jesus histórico seria de Flavo Josefo, que teria
escrito:
772. Nesse mesmo tempo, apareceu
JESUS, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um
homem, tão admiráveis eram as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em
ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muito judeus, mas
também por muitos gentios. Ele era o CRISTO. Os mais ilustres dentre os de
nossa nação acusaram-no perante Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os
que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram depois da morte. Ele
lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas haviam
predito, dizendo também que ele faria muitos outros milagres. É dele que os
cristãos, os quais vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.[1]
Muitos acreditam que essa referência foi enxertada durante a idade média,
considerando oportuno o que escrevi alhures:
Cristo nasceu entre
os anos 7 e 4 a.C., mas muitos negam a sua existência histórica, até porque
Flávio Josefo, o único historiador antigo que teria se referido a ele, nasceu
aproximadamente 5 anos após a sua morte e os escritos do Novo Testamento, na
maioria, não decorrem de discípulos, mas de apóstolos. Ademais, as poucas
linhas do livro de Flávio Josefo (Guerras Judaicas) que se referem a Cristo
foram, comprovadamente, alteradas/enxertadas por líderes religiosos da Idade
Média.[2]
Hoje,
não paira dúvida de que os evangelhos são posteriores às cartas e que,
possivelmente, possam ter enxertado, durante a Idade Média, algumas falsas
perspectivas dos criadores do cristianismo naquilo que conhecemos como Novo
Testamento. Afirmo que o cristianismo era para ser incompatível com o judaísmo,
mas Paulo, com a sua genialidade, acabou compatibilizando o que seria
impossível de se ajustar para a coexistência. De todo modo, Erasmo de Rotterdã já
havia criticado a conjugação de judaismo e cristianismo, vendo inconsistências
nela. Também, criticou práticas cristãs e de seus sacerdotes.[3]
Sem pretender me valer aqui de qualquer estratagema preconizado por
Schopenhauer para vencer um debate sem precisar ter razão, especialmente do último,
dos desesperados,[4]
que é atacar o opositor, devo alertar para o fato de que crer em Flavo Josefo é
complicado, eis que ele foi preso com toda a tropa que comandava e foi o único
que não foi executado.
De toda forma, com André Comte-Sponville afirmo que se a páscoa lhe
trouxer felicidade, um momento de felicidade atual, não para a vida seguinte,
deve ser vivida intensamente,[5]
eis que devemos buscar a nossa felicidade para hoje, não para o amanhã. Assim,
mesmo não crendo no simbolismo da ressurreição, espero que todas as páscoas
sejam de felicidade!
[1]
JOSEFO, Flavo. História dos hebreus. www.ebooksgospel.com.br. Disponbível
em: <https://docs.google.com/file/d/0Bzh9viT4NH21YmtGRndfZ1h3eTg/edit>.
Acesso em: 14.4.2017, às 8h40.
[3] ROTTERDAM, Erasmo. ROTTERDAM, Erasmo. Elogio da loucura. São
Paulo: Martin Claret, 2000. p. 81-83.
[4]
SCHOPENHAUER, Arthur. Como vencer um debate sem precisar ter razão: em 38 estratagemas.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1.987. passim.
[5]
CONTE-SPONVILLE, André. A felicidade desesperadamente. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.