terça-feira, 8 de outubro de 2024

A felicidade em um modelo simples

1. FINALIDADE

Tratarei rapidamente sobre os modelos de felicidade que nos são apresentados, especialmente em face de um texto publicado por um “filósofo boteco”, como ele próprio se intitula. Um bom texto que me levou à presente reflexão.[1]

O texto me foi enviado pelo Google, um daqueles textos impulsionados por inteligência artificial, dentre muitos selecionados pelos algoritmos como aqueles que potencialmente me interessam. Acertaram em cheio porque a leitura me levou a escrever o presente texto.

2. ESTRANGEIRISMOS PARA DEMONSTRAR APARENTE ELEVADA CULTURA

Digo inicialmente que a nossa língua portuguesa vem sendo abandonada pelos brasileiros mais jovens. Há um crescente estrangeirismo na linguagem corrente, nas gírias, em um suposto empoderamento das pessoas por evidenciarem estarem incluídos no mundo civilizado.

Uma pessoa treinadora de outrem é denominada coach. Uma mentalidade vencedora é denominada “’mindset’ vencedor”. Isso me faz rememorar o que escrevi anteriormente:

...tive dificuldades ao conhecimento de outros idiomas, sendo oportuna a crítica de Erasmo de Rotterdam ao excesso de estrangeirismos dos discursos superficiais que usam diversas palavras gregas e de outras línguas para lançar poeira aos olhos do leitor e aqueles que entendem quatro ou cinco vocábulos estrangeiros se orgulharão do próprio saber e os que não entendem os admirarão na proporção da própria ignorância.[2][3]

É lógico que não pretendo que esqueçamos que muitos conhecimentos são expressos em línguas nacionais dos pesquisadores estrangeiros, sendo que “Mindset” como a Psicologia do sucesso tem a forte influência da estadunidense Carol S. Dweck.[4] De todo modo, devemos valorizar o nosso idioma oficial (Constituição Federal, art. 13, caput).

3. O TEXTO DE RENATO DE FARIA COM ALGUMAS CONSIDERAÇÕES QUE FAREI

A introdução é uma provocação ao leitor, in litteris:

Já cansou de ouvir que o sucesso está a apenas uma mudança de mindset de distância? Que tudo que falta na sua vida é acordar às 5h da manhã, fazer yoga e recitar mantras de gratidão enquanto toma seu chá de kombucha? Pois bem, meus parabéns! Você finalmente percebeu que está sendo gentilmente enganado. Bem-vindo ao maravilhoso mundo dos fracassados conscientes, onde o sarcasmo é nosso melhor coach, e a filosofia, nosso manual de sobrevivência.[5]

O texto passa por Kant para lembrar que “viver é enfrentar dilemas morais e que nem sempre o bem-estar virá em pacotes prontinhos, como um curso de 12 semanas que promete transformar a sua vida”.[6] O fato é que Alain de Botton procura demonstrar que a Filosofia é prática e pode ser utilizada em nosso favor.[7]

É interessante verificar que “tem gente ‘coaxando’ o mantra de ‘você é único, incrível e nasceu para brilhar’”, trazendo o pessimismo de Schopenhauer para alertar que a vida não é tão simples assim. A felicidade está em aceitar o fracasso inevitável.

Com propriedade, Renato de Faria afirma que O desejo incessante de ser ‘melhor’ ou de ‘ter sucesso’ só aumenta nossa angústia”.[8] E passa por Nietzsche para dizer “o que você realmente é... é uma bagunça, sem fim”. E gosto quando ele afirma “...a filosofia não oferece um ‘mindset vencedor’. Ela oferece o pensamento crítico. E pensar criticamente é, muitas vezes, desconfortável.”.[9] Com efeito, nem tudo tem solução e devemos aceitar, não raramente, as nossas limitações.

Devemos parar de “coaxar mantras” e acordar às 5h da manhã não é imprescindível ao sucesso.[10] Veja-se que o texto foi publicado às 4h, induzindo a ideia de que o autor seja notívago. Cada um tem o seu jeito de ser.

4. CONCLUSÃO

Vale a pena ler o texto de Renato de Faria, a fim de refletir sobre as soluções simplistas do “coachs”, as quais podem te induzir a problemas ainda maiores e, ao final, à sensação de não passar de mais um fracassado.



[1] FARIA, Renato de. Filósofos contra coaches: diferentemente do que dizem os gurus do desenvolvimento pessoal, a filosofia não merece um “mindset vencedor”. Ela oferece um pensamento crítico. Estado de Minas, Filosofía Explicadinha, 7.10.2024, às 4h. Disponível em: <https://www.em.com.br/colunistas/filosofia-explicadinha/2024/10/6959053-filosofos-contra-coaches.html>. Acesso em: 8.10.2024, às 9h.

[2] ROTTERDAM, Erasmo. Elogio da loucura. São Paulo: Martin Claret, 2000. p. 18.

[3] MESQUITA JÚNIOR, Sidio Rosa de. Machismo puro sangue: a minha percepção da obra elogio da loucura, de Erasmo de Rotterdam, nos anos de 2017 a 2020. E a felicidade? Pode ser conquistada? Estudos jurídicos de filosóficos, 19.9.2021. Disponível em: <https://sidiojunior.blogspot.com/2021/09/machismo-puro-sangue-minha-percepcao-da_7.html>. Acesso em: 8.10.2024, às 9h25.

[4] DWECK, Carol S. Mindset: A nova psicologia do Sucesso. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2016. Disponível em: <chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://editoracaminhar.com.br/wp-content/uploads/2020/06/Mindset-A-Nova-Psicologia-do-Sucesso-Carol-Dweck1.pdf.pdf>. Acesso em: 8.10.2024, às 9h20.

[5] FARIA, Renato de. Filósofos contra coaches: diferentemente do que dizem os gurus do desenvolvimento pessoal, a filosofia não merece um “mindset vencedor”. Ela oferece um pensamento crítico. Estado de Minas, Filosofía Explicadinha, 7.10.2024, às 4h. Disponível em: <https://www.em.com.br/colunistas/filosofia-explicadinha/2024/10/6959053-filosofos-contra-coaches.html>. Acesso em: 8.10.2024, às 9h.

[6] Ibidem.

[7] BOTTON, Alain de. As consolações da filosofia. Porto Alegre: L&PM, 2014.

[8] FARIA, Renato de. Filósofos contra coaches: diferentemente do que dizem os gurus do desenvolvimento pessoal, a filosofia não merece um “mindset vencedor”. Ela oferece um pensamento crítico. Estado de Minas, Filosofía Explicadinha, 7.10.2024, às 4h. Disponível em: <https://www.em.com.br/colunistas/filosofia-explicadinha/2024/10/6959053-filosofos-contra-coaches.html>. Acesso em: 8.10.2024, às 9h.

[9] Ibidem.

[10] Ibidem.

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