Tratarei aqui de fatos que aconteceram e dos quais me orgulho, embora imorais.
Estudei
na Academia Policial Militar do Guatupê, de 1987 a 1989. Fui “Xerife” de turma
em uma semana que sequer recordo o ano e tínhamos uma visita para fazermos em
Curitiba (algo cívico em algum lugar histórico). Então, 2 cadetes pretendiam
parecer importantes, usando uniformes de gala (mais chiques). Ocorre que
era um dia quente e determinei uniformes mais leves.
Foi
uma tragédia porque os 2 se sentiram profundamente ofendidos. 1 deles buscou o
Comandante da Turma afirmando que eu dizia saber mais Direito Penal do
que ele – pior, sempre neguei a denominação Direito Penal – e instrutor exigiu
prova, tendo o colega apresentado uma testemunha e, falsamente, disseram:
Nas
aulas que o senhor falta e estamos limpando o pátio e jardim ele afirma que ser
um absurdo as aulas de Direito Penal se tornarem em aulas de jardinagem.
O Senhor faz
isso porque sabe menos Direito Penal do que ele.”
Fui
punido com 6 dias de detenção devido a isso. Todavia, a minha reclamação era
fazer horas-aulas acadêmicas em jardinagem.
Poucos
meses depois fui procurado por alguns Cadetes porque era muito bom acadêmico e a
“testemunha” do meu delator não tinha condições de ser aprovado em Estatística.
Por isso, fiz a prova dele.[1]
Em
certo momento, vi que o instrutor, um Coronel, percebeu que fiz a prova de outrem, “deixando passar”. Eu, muito nervoso, fiz a prova dele e a
minha. Ele precisava de 9,0 e foi aprovado com essa nota.
Tirei
7,0 na prova e nunca me arrependerei do que fiz. Ajudei uma pessoa, independentemente
de qualquer fato anterior.
Kant
diria que errei porque a moral é superior ao interesse pessoal. No entanto, o
interesse não era pessoal, mas o coletivo: ajudar uma turma a se formar.[2]
Esse
é um caso em que a imoralidade (nunca “colei” e fiz a prova de outrem), creio,
foi reconhecida como lícita pelo avaliador.
Pena
que o colega se formou e poucos meses depois morreu em um acidente automobilístico....
[1] À
época, pensava que estatística era preocupação de Oficiais Superiores, quando
muito de Oficiais Intermediários. Depois, percebi o meu erro. Mas, nem todo
mundo está no plano do planejamento, sendo meio bruto o operacional.
[2] Veja-se: KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos. São Paulo: Martin Claret, 2003. passim.
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